Gerir o Tempo
Peter Saunders e Caroline Bunting refletem sobre como Jesus geria o tempo
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O tempo, ou melhor, a falta dele, é um tema sensível para qualquer profissional de saúde. Talvez esbocemos um sorriso irónico ao ler a afirmação de Eclesiastes: "Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu." (Eclesiastes 3:1, BPT). Quem nos dera! Quando fazemos uma pausa para respirar, podemos reparar que os dias se transformaram em semanas, as semanas em meses, e, passado um ano, percebemos que não fizemos progressos significativos. Os livros que comprámos com entusiasmo estão por ler na estante. Os amigos com quem prometemos passar tempo ainda se perguntam se alguma vez iremos abrandar o suficiente para descobrir como realmente estão.
E ainda pior, o tempo que passamos a falar com Deus e a ler a sua Palavra é feito em momentos apressados (se é que o fazemos), com um olho no relógio e o outro meio fechado.
Quando estamos demasiado ocupados ou cansados, há pouca hipótese de aprofundarmos o nosso relacionamento com o nosso Pai celestial. Jesus dá-nos um exemplo a seguir. Apesar das enormes pressões sobre o seu tempo, especialmente por parte de pessoas física e espiritualmente necessitadas, o tempo com o seu Pai era a sua prioridade.
Jesus, de uma forma única, manteve um equilíbrio entre adoração, oração, família, amigos, trabalho e descanso. Para o conseguir, manteve uma relação íntima com Deus e tinha uma visão clara da sua missão de vida.
A seguir estão algumas das características de Jesus que, como nosso modelo, podemos seguir para ajudar a aprofundar o nosso relacionamento com Deus:
Jesus protegia a sua vida devocional — Ele passava regularmente tempo em oração e a estudar as Escrituras, especialmente durante períodos de intensa atividade. (1) Ele estava imerso na Palavra de Deus. Sejamos leitores e estudantes da Bíblia — façamos disto uma das nossas primeiras prioridades.
Jesus não pecava — O pecado enfraquece o nosso testemunho mais do que qualquer outra coisa. Precisamos de estar limpos por completo. Ao rejeitar pensamentos e comportamentos errados, teremos mais tempo e energia para sermos usados por Deus. (2)
Jesus tinha uma estratégia clara — Encontramos a declaração de missão de Jesus no seu sermão à sua própria comunidade em Nazaré: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar boas novas aos pobres... para proclamar o ano da graça do Senhor." (Lucas 4:18-19, BPT). Precisamos de ter um propósito e uma visão gerais alinhados com a nossa chamada dentro do corpo de Cristo. Devemos tomar o controlo das nossas vidas escolhendo obedecer a Deus da mesma forma que Jesus o fez.
Jesus cumpriu tudo na sua declaração de missão, mas tinha uma prioridade — pregar o evangelho — que se sobrepunha a todos os outros ministérios. (3) A Bíblia apresenta várias ordens de prioridade, como o evangelho ter prioridade sobre a cura. Para cada um de nós, as prioridades serão diferentes, mas há certas atividades e pessoas que Deus quer que priorizemos.
Jesus reservava tempo para indivíduos — Durante o ministério ocupado de Jesus, Ele não deixava que a urgência ofuscasse o que era importante. Jesus estava a caminho de ver alguém gravemente doente, com uma infeção aguda, quando foi interrompido por uma mulher com hemorragia prolongada. Ela recebeu a sua atenção total e, como se para validar a sua decisão, Deus permitiu-lhe ressuscitar a filha de Jairo. (4) No vosso ministério como estudantes de medicina, não poderão passar tempo com toda a gente. Orem para que Deus vos mostre as pessoas com quem Ele quer que parem.
A estratégia de Jesus não era fazer todo o trabalho sozinho, mas equipar outros — Isto pode ser particularmente difícil para nós na profissão médica. Muitos de nós somos pioneiros independentes e solitários; mas Deus quer que equipemos outros para fazer o nosso trabalho, para que o trabalho se multiplique. Podemos até descobrir que aqueles que equipamos acabam por fazer um trabalho muito melhor do que nós. (5)
Jesus escolheu a sua companhia — Tornamo-nos como aqueles com quem passamos o nosso tempo. Quantos dos homens e mulheres que Deus usou na história bíblica passaram um período das suas vidas como aprendizes de algum modelo? Pensemos em Josué e Moisés, Eliseu e Elias, ou Timóteo e Paulo. Procuremos aqueles cristãos mais velhos com quem podemos realmente aprender. Procuremos aprender o que é que os torna eficazes ao serviço de Deus e sigamos o seu exemplo.
Jesus reconhecia a importância de se retirar e descansar — Mesmo perante necessidades urgentes. Nós também precisamos de tirar tempo de estudo e ministério em intervalos regulares. O esgotamento é um grande problema para os cristãos na profissão médica, pois somos movidos por um forte sentido de responsabilidade e estamos conscientes da enorme quantidade de necessidades não atendidas.
Jesus nunca esteve ocioso — O trabalho árduo traz glória a Deus porque estamos a imitar Deus, que Ele próprio trabalha. É importante que consideremos todo o serviço a Deus como trabalho, não apenas o estudo para a nossa futura carreira. Passar tempo com a nossa família e amigos é igualmente um trabalho ao serviço de Deus.
A nossa oração é que possamos aprender com Jesus a usar o nosso tempo de uma forma que mais glorifique a Deus. Se as nossas agendas estiverem demasiado cheias para darmos prioridade às questões eternas, então devemos reorganizar o nosso horário em torno das preocupações de Deus, em vez de permitirmos que essas prioridades sejam comprometidas. Mas não deixemos que as preocupações com a gestão do tempo nos consumam. Confiemos em Deus, pois a sua graça é totalmente suficiente; o seu Espírito vive e trabalha em nós.
Peter Saunders é CEO da International Christian Medical and Dental Association (ICMDA)
Caroline Bunting é uma antiga editora da Nucleus
Tradução: Lilian Calaim
Imagem: Ben White