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Deus cura hoje?

INTRODUÇÃO

Uma caraterística comum das igrejas cristãs evangélicas é a oração pela cura dos doentes, em particular de membros da igreja que se encontram enfermos, ou seus familiares, amigos e colegas. No entanto, na maioria das vezes, não existe a expectativa de que Deus vai agir de imediato em resposta às orações, curando a enfermidade, sobretudo nas situações mais graves e debilitantes, como doenças degenerativas ou oncológicas. Embora não excluindo totalmente a possibilidade de uma recuperação inesperada e surpreendente, a maioria dos crentes acredita que as suas orações irão contribuir para confortar os doentes, ajudá-los a suportar o sofrimento e, nos casos menos graves ou para os quais existe tratamento curativo, acelerar a sua recuperação.

Milagres de cura como os relatados nos Evangelhos, de cegos a ver, mudos a falar, surdos a ouvir, coxos a andar (p. ex. Mateus 15:30,31), são considerados manifestações sobrenaturais do poder de Deus através do Seu Filho Jesus Cristo e dos apóstolos, numa era especial de início da igreja cristã, que não serão de esperar nos dias em que vivemos.

 

O destaque dado ao ministério da cura por parte de segmentos mais efusivos do cristianismo, por vezes com práticas algo estranhas, e a falta de confirmação clínica de muitas alegadas curas e milagres, também contribuíram para a descredibilização deste ministério eclesial.  

 

O QUE DIZ A BÍBLIA?

Não existe qualquer base bíblica para a crença, presente em muitas igrejas, de que a cura de doentes é um acontecimento raro e que o ministério da cura e libertação não se justifica na sociedade contemporânea, mais culta e esclarecida, e com acesso relativamente fácil a serviços de saúde.

Curar faz parte do caráter de Deus. Em Êxodo 15:26 o Senhor é chamado Rafá, aquele que cura. Lemos nos Salmos 103:3, “É ele [Deus] que perdoa todas as tuas iniquidades, e sara todas as tuas enfermidades”. Uma vez que o Seu carácter é eterno e imutável, este atributo continua presente nos nossos dias, incrementado após a vinda de Cristo e a descida do Espírito Santo.

Encontramos nos quatro Evangelhos referência a 41 curas (ou momentos de cura) operadas por Jesus, que representa seguramente apenas uma fração das que o Senhor realizou (cf. João 21:25). No início do Seu ministério público, na sinagoga de Nazaré, Jesus leu no livro de Isaías (61:1-2): “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, A apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:18-19). Estas palavras foram plenamente cumpridas na vida de Cristo e representam uma síntese da missão do Senhor (cf. Lucas 4:21, Atos 10:38).

Para alguns teólogos, a morte de Cristo no calvário permite a salvação de todos os que creem nele e também a cura física. Lemos na profecia messiânica de Isaías 53:5, que “pelas suas pisaduras fomos sarados”. Aliás, a palavra “salvação” (sozo no grego), no seu sentido etimológico original, inclui o perdão dos pecados e também a cura das doenças (cf. Marcos 2:9-11).

O Senhor Jesus comissionou os Seus discípulos (Mateus 10:1) e depois os setenta para curarem os doentes e expulsarem demónios (Lucas 10:9), deixando claro que “aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para meu Pai” (João 14:12). Depois do Pentecostes, o ministério da cura e libertação continuou a ser exercido pelos apóstolos e primeiros crentes, como lemos neste relato do livro dos Atos: “transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que, ao menos, a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles. E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais todos eram curados” (Atos 5:15-16). Contudo, não eram apenas os apóstolos que realizavam curas e milagres, em nome de Jesus. Quando o apóstolo Paulo perdeu a visão, na estrada de Damasco, Deus chama um crente dessa cidade chamado Ananias para impor as suas mãos sobre Paulo, para ele voltar a ver e ser cheio do Espírito Santo (Atos 9:17).

Devemos também rejeitar a ideia de que a doença é uma cruz que, como cristãos, temos de suportar. Os textos bíblicos que apresentam uma visão positiva do sofrimento, associam-no à perseguição e tribulações relacionadas com a proclamação do Evangelho, e não à doença (p. ex. Romanos 12:12).

É verdade que na igreja do primeiro século estão registados casos em que não houve cura, como aconteceu com Epafrodito (Filipenses 2:25-27), Timóteo (1 Timóteo 5:23) e Trófimo (2 Timóteo 4:20). O próprio apóstolo Paulo refere ter um “espinho na carne” (2 Coríntios 12:7), que não sabemos se era de natureza física, mental ou espiritual, embora muito provavelmente tenha tido problemas de visão (cf. Gálatas 4:15, 6:11). Somente na eternidade teremos um entendimento completo acerca destas questões (1 Coríntios 13:12), mas uma explicação possível de não experimentarmos a manifestação plena do poder de Deus, deste lado da eternidade, e dos muitos insucessos na oração por cura, é que o príncipe deste mundo e as forças do mal continuam ativos em oposição aos planos do Senhor e da Igreja. Por isso aguardamos com expectativa o dia em que Satanás e os seus anjos serão destruídos e não haverá mais morte, doença ou sofrimento (Apocalipse 12:9-10; 21:3-4).

 

CONCLUSÃO

Os extraordinários avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas, no campo da biomedicina, têm contribuído para a melhoria da saúde das pessoas e para um aumento da esperança de vida, à escala mundial. Devemos estar gratos a Deus por isso, e valorizar o trabalho dedicado dos profissionais de saúde, muitos deles cristãos.

Sempre que recorremos aos serviços de saúde, não devemos ter sentimentos de culpa por pensarmos que estamos a demonstrar falta de fé, pois cuidados de saúde de qualidade, preferencialmente humanizados, são uma dádiva de Deus. No entanto, não podemos negligenciar todos os recursos espirituais a que temos acesso como filhos de Deus, como a cura de doenças e problemas de saúde, físicos ou mentais.

Deus cura hoje, como sempre curou ao longo da história, mas esta doutrina bíblica fundamental esteve adormecida durante séculos. Nos últimos anos, por influência do movimento pentecostal e carismático, aberto à ação sobrenatural do Espírito Santo e ao exercício dos dons espirituais, tem vindo a ser redescoberta por um número crescente de cristãos ao redor do mundo, de todas as denominações.

Tendo eu próprio experimentado o poder curador de Deus, na minha vida e na de pessoas que conheço bem, estou plenamente convencido de que chegou a hora das igrejas que se dizem cristãs voltarem a cumprir cabalmente a sua responsabilidade e missão de orarem com confiança e expectativa pela cura dos doentes. Caso contrário, não estarão a ser fiéis ao mandato do Senhor: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo: mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demónios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” (Marcos 16:16-18).

Jorge Cruz

Médico

 

Imagem: Pexels.com, Luis Quintero, pexels-jibarofoto-17026872

Bibliografia

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