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Apologética: nenhuma pergunta é proibida

Artigo da revista Nucleus da Christian Medical Fellowship (Reino Unido), "de estudantes para estudantes".

Original article: (clique aqui)

Calum Miller mostra que o Cristianismo faz sentido

Calum Miller é um médico que também trabalha em part-time como palestrante no OCCA (The Oxford Centre for Christian Apologetics)

Como é que sabes que Deus existe? Como é que sabes que o Cristianismo é a religião certa? Por que Deus permite o sofrimento? Como podes ser profissional de saúde e acreditar que Jesus ressuscitou dos mortos? Por que Deus não permite o aborto?

Provavelmente já te deparaste com perguntas como essas feitas por outras pessoas - talvez na faculdade. Se calhar até já as fizeste a ti próprio. Talvez até te tenham feito duvidar da tua fé.

O meu nome é Calum, sou médico e trabalho em part-time como palestrante no OCCA (The Oxford Centre for Christian Apologetics). No OCCA, fazemos o nosso melhor para responder a perguntas como essas. Às vezes as respostas são fáceis, outras vezes são mais difíceis, mas como cristãos não precisamos temer a verdade. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6), e entrou na história em parte para mostrar exatamente isto: que podemos testar as afirmações da Bíblia e submetê-las ao escrutínio histórico.

Quando fui para a faculdade de medicina, não sabia ao certo em que acreditar em relação a Deus. Foi na época em que Richard Dawkins era particularmente popular: eu tinha ido para Oxford, onde ele estudou, antecipando uma enxurrada de ideias anticristãs, talvez até mesmo ser ridicularizado. E em parte por essa razão, optei por uma versão muito diluída do cristianismo que olhava para os cristãos tradicionais com desprezo e escárnio. Até criei uma união cristã alternativa no meu primeiro ano para desafiar as afirmações nas quais os cristãos confiavam.

Fiquei surpreso ao encontrar tantos cristãos nos níveis mais elevados da academia, em várias disciplinas. Talvez o mais surpreendente tenha sido encontrar meu tutor, o Diretor de Estudos Pré-clínicos e Professor de Anatomia, dando uma pregação na capela sobre a ressurreição (literal, corporal) de Jesus! Mas havia muitos outros para além dele.

Com o passar do tempo, fiquei mais céptico em relação ao meu próprio cepticismo. Quando conheci os cristãos "convencionais", descobri que eles não eram tão loucos, irracionais ou simplesmente desagradáveis ​​como fui levado a pensar que seriam. Eles foram gentis e atenciosos e - talvez o mais importante para mim - eles tinham respostas sólidas para as perguntas difíceis.

Na universidade, comecei a lutar com essas questões ao mais alto nível que pude. Li sobre as ideias mais recentes da filosofia e da história, chegando até a trabalhar com o meu herói da filosofia, Richard Swinburne. Depois de trabalhar como médico em tempo integral durante alguns anos, voltei para Oxford para estudar bioética, descobrindo novamente que a perspectiva cristã sobre a dignidade e a igualdade dos seres humanos - não importa quão jovens, idosos ou dependentes sejam - é a que faz mais sentido em relação às nossas intuições mais básicas sobre igualdade e direitos humanos. Em conferência após conferência, e em artigo após artigo, descobri que a cosmovisão cristã dava o melhor sentido ao mundo: das nossas crenças sobre moralidade e direitos, à existência do universo, à nossa experiência consciente e, de forma mais crítica, às evidências históricas sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus.

Isso não significa que todas as minhas perguntas foram respondidas - isso seria quase fácil demais, talvez até levantaria suspeitas por ser tão simples e circunscrito. Mas nós confiamos nas pessoas sem saber tudo sobre elas a toda a hora. Fazemos isso não porque sabemos tudo sobre elas, mas porque o que sabemos com segurança sobre elas nos dá uma base firme o suficiente para confiar nelas nas coisas sobre as quais não temos a certeza. Isso é o que “fé” significa: colocar a tua confiança e investir em alguém não porque não haja nenhuma evidência a favor dessa pessoa, mas precisamente porque ela te deu motivos para confiares nela.

Em última análise, o cristianismo depende da pessoa de Jesus: quem era Ele? O que Ele fez? E o que aconteceu com Ele depois da Sua morte? Novamente, o Cristianismo não apenas tem boas respostas para essas perguntas; quaisquer outras respostas são comprovadamente erradas. Para garantir que eu não estava sendo ingénuo e acreditando em apologética cristã enviesada, fiz um mestrado em Estudos Bíblicos, e a minha tese foi sobre a confiabilidade histórica dos evangelhos. Isso confirmou o que minha leitura anterior havia sugerido: os historiadores simplesmente não conseguem explicar de forma plausível quem foi Jesus e o que aconteceu após a Sua morte. Eles têm tentado durante 2000 anos e ainda não têm a menor ideia de como explicar as evidências, a menos que Jesus realmente fosse quem disse que era.

Nalguma altura dos teus estudos, provavelmente entrarás em contato com Sims “Symptoms in the Mind”, [1] talvez na introdução à psiquiatria clínica. Foi escrito por Andrew Sims, ex-presidente do Royal College of Psychiatrists. Menos conhecido, mas mais importante ainda, é outro livro que ele escreveu há apenas dois anos: “Mad, Bad ou God?” [2] Neste livro, um dos principais psiquiatras dos últimos 20 anos mostra como as afirmações radicais de Jesus sobre a Sua própria identidade precisam de explicação. Uma explicação que é verdadeira para outras pessoas que fazem afirmações semelhantes: ele estava sofrendo de uma doença psicótica. Mas Sims ensina como essa explicação - talvez a explicação usual para essas afirmações - simplesmente não se adequa às evidências históricas. Jesus não só não era psicótico, como também demonstrou profunda estabilidade mental e genialidade, rivalizando com algumas das maiores mentes da humanidade. Jesus também não deu mostras de ser um mentiroso: até porque estava disposto a morrer por aquilo que acreditava. Nesta situação, as explicações usuais sobre por que as pessoas afirmam ser Deus falham. Existe outra? Sims acha que sim.

Talvez não seja o suficiente para alguém acreditar em Jesus; não foi o que me convenceu originalmente. O que realmente me deixou perplexo são as evidências da ressurreição de Jesus. Há tanto para dizer sobre isso - recentemente gravei um podcast de 45 minutos [3] sobre o assunto! - mas resumidamente: quando se investiga profundamente as evidências históricas, realmente não há outra explicação plausível para o túmulo de Jesus ser encontrado vazio, e para como os Seus discípulos - e algumas pessoas que pensaram que Ele era mau ou louco - tiveram visões Dele após sua morte. Alucinações devido ao luto podem acontecer após a morte de um ente querido; mas raramente são polimodais, ainda mais raramente experienciadas por mais do que uma pessoa e praticamente nunca experienciadas em grupo. Por mais sofisticadas que sejam as explicações apresentadas para esses factos, quando examinadas com pormenor, elas não convencem. A vida, morte e (ostensiva) ressurreição de Jesus se destacam como uma anomalia histórica - e mais ainda, uma anomalia que abalou as normas das sociedades antigas, dando início a um terramoto cultural e moral, cujo abalo secundário ainda hoje vivemos. A história nunca mais foi a mesma depois disso.

Ter formação na área da saúde deu-me uma perspectiva única sobre essas questões, incluindo, por exemplo, a questão da sanidade de Jesus e a plausibilidade das alucinações que explicam os avistamentos de Jesus pelos discípulos. Atualmente, ainda pratico medicina, enquanto dou algumas aulas e faço investigação na universidade sobre esse tipo de questões. Mas cada vez mais tenho alterado a minha atuação para palestras e debate de ideias, tentando mostrar às pessoas que estão dispostas a refletir, o sentido do Cristianismo, seja historicamente, filosoficamente ou eticamente. Na OCCA, o nosso trabalho é mostrar aos não-cristãos a diferença que o cristianismo faz e, ao mesmo tempo, demonstrar aos cristãos a riqueza que pode ser encontrada no pensamento intelectual e baseado em evidências sobre a fé (sem minar o fato de que, em última análise, é um relacionamento!). Um dos nossos lemas é: “Nenhuma pergunta é proibida”'. Esperamos que este lema comunique o escrutínio e o rigor que procuramos trazer ao nosso trabalho, sabendo que mesmo quando o Cristianismo é visto com clareza, exposto à fria luz do dia, ainda brilha. Na verdade, ele brilha mais intensamente do que antes.

Referências:

  1. Sims ACP. Symptoms in the Mind: An Introduction to Descriptive Psychopathology. Philadelphia: Saunders ltd, 2002
  2. Sims ACP. Mad, Bad or God? Oxford: IVP, 2018
  3. CC019: The Prior Probability of the Resurrection with Dr. Calum Miller (Part 2). Capturing Christianity Podcast. 

 

Tradução: Carla Lima
Revisão: Jorge Cruz e Lilian Calaim