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O Manifesto de Jesus (Mateus 5:1-12)

 

As Bem-Aventuranças ou Beatitudes são o Manifesto de Jesus para a Humanidade, pois contêm a essência do ensino do Senhor.

As qualidades apresentadas neste texto não são simples sugestões de conduta, mas mandamentos do Senhor para cada um dos seus discípulos. Tal como o fruto do Espírito, devem ser exibidas na totalidade. Não se destinam a uma elite de crentes “superespirituais” ou apenas aos pastores e líderes da igreja, mas a todos os que entregaram as suas vidas ao Senhor Jesus e que desejam ser Seus discípulos.

A palavra “bem-aventurados” provém do gregomakariose é por vezes traduzida por “felizes”. No entanto, o significado mais preciso será “abençoados” ou “afortunados”. Quem pode estar feliz quando chora, quando sofre ou é perseguido? A felicidade é subjetiva, varia de pessoa para pessoa e está dependente das circunstâncias, enquanto que a benção de Deus é uma promessa e uma certeza, não apenas para a vida futura mas para o presente.

Abençoados os humildes (ou pobres) de espírito

Jesus não se está a referir aos pobres do ponto de vista socioeconómico. Ainda que por vezes a riqueza e prosperidade material possam ser um obstáculo para a comunhão com Deus, não há aqui nem em outro lugar das Escrituras a revelação de que os materialmente pobres serão, por esse motivo, mais abençoados por Deus. A expressão pobres ou humildes de espírito também não se refere aos incultos e ignorantes, às pessoas com pouca instrução nem aos que apresentam algum atraso mental. A pobreza de espírito é uma condição espiritual indispensável para a entrada no Reino de Deus. Significa reconhecermos a nossa pobreza e fracasso espiritual perante os elevados padrões de conduta que um Deus santo e perfeito requer, tal como o cobrador de impostos que dizia: “ó meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador” (Lc. 18:13).

Abençoados os que choram

Não se trata de um choro qualquer mas de uma tristeza profunda, como quando passamos por um processo de luto pela perda de alguém que amamos. Resulta de reconhecermos a dimensão e gravidade do nosso pecado e do pecado dos outros (cf. Sl. 139:136). É o sentimento de vazio, de falta de sentido na vida, que tem levado muitos ao suicídio ou à loucura e que só Deus pode satisfazer. Como dizia Pascal, “o coração humano tem um vazio com a forma de Deus”.

Abençoados os mansos

Na Bíblia o adjetivo “manso” é usado para descrever o caráter de duas pessoas: Moisés (Nm. 12:3), que desafiou o poderoso faraó, e Jesus (Mt. 11:29), que se submeteu voluntariamente à tortura e humilhação de cruéis soldados romanos, mas não se vergou perante o governador Pilatos. A mansidão não significa fraqueza, cobardia ou timidez, mas humildade, obediência e autocontrolo. Tal como um cavalo amestrado, acerca do qual dizemos que é manso porque é submisso e obedece ao dono, não porque seja fraco, do mesmo modo os mansos a que Jesus se refere são pessoas que se submetem voluntariamente à vontade de Deus e são dirigidas pelo Seu Espírito.

Abençoados os que têm fome e sede de cumprirem a vontade de Deus

Ter este tipo de fome e sede de que Jesus fala é algo que poucos de nós já experimentamos, mas que os discípulos de Jesus conheciam bem. Significa estar tão desesperadamente à procura de água ou de alimento (p. ex. no deserto), que todas as outras coisas deixam de ter importância. As necessidades fisiológicas como comer, beber e dormir encontram-se na base da célebre pirâmide de Maslow, antes de outas necessidades como a segurança ou a realização pessoal. Termos fome e sede de cumprirmos a vontade de Deus é o desejo ardente de vermos o Reino de Deus a ser estabelecido à medida que as pessoas conhecem Jesus como Salvador e Senhor das suas vidas.

Abençoados os misericordiosos

São muitos os textos das Escrituras que se referem à misericórdia de Deus, bem como à necessidade de perdoarmos aos outros como Cristo nos perdoou. O Senhor comunicou aos seus discípulos que lhes estava a transmitir um mandamento novo no que se refere ao amor: “amem-se uns aos outros. Assim como eu que vos amei, é preciso que se amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns aos outros, toda a gente reconhecerá que são meus discípulos” (João 13:34-35). Este amor compassivo inclui o cuidado para com os mais fracos e vulneráveis, que têm necessidade de alimento, de roupa e de conforto na doença ou na prisão, e vai além do ensino tradicional judaico, pois inclui o amor pelos inimigos. Foi o anseio de cumprir a vontade de Deus e o amor para com os outros que levou à criação dos primeiros hospitais e orfanatos, à abolição da escravatura ou ao desenvolvimento da Medicina Paliativa, por iniciativa de cristãos comprometidos com Deus.

Abençoados os limpos de coração

Os limpos ou íntegros de coração são pessoas sinceras no seu relacionamento com Deus e com os outros. Não colocam máscaras porque não têm nada a esconder. Não têm de provar nada porque sabem que não são nada sem Deus (são espiritualmente pobres). São pessoas que não se comportam de uma forma na igreja e de outra a nível familiar ou profissional mas que, sejam quais forem as ocasiões e circunstâncias, procuram viver com uma consciência pura perante Deus.

Abençoados os pacificadores

Os seguidores de Jesus devem procurar a reconciliação entre os seres humanos, uns com os outros e com Deus, que é um Deus de Paz. A história contemporânea está repleta de exemplos de homens e mulheres, cristãos comprometidos, que tiveram um papel determinante na reconciliação entre grupos em conflito e na transição política pacífica em países, como por exemplo na África do Sul, onde seria de esperar um banho de sangue com a mudança de regime, após décadas de segregação racial.

Abençoados os que são perseguidos

Apesar dos nossos esforços em prol da reconciliação, alguns irão opor-se. Cada cristão deve esperar oposição, que resulta de nos identificarmos com Jesus e proclamarmos a Sua divindade e exclusividade como o único caminho para Deus. Nunca houve nenhuma outra época da história em que mais crentes fossem perseguidos, por causa da sua fé em Cristo, do que nos nossos dias. E a hostilidade vai aumentar, à medida que nos aproximarmos do fim dos tempos.

Conclusão

No Sermão do Monte, o Senhor coloca-nos o desafio de vivermos segundo os elevadíssimos padrões e valores eternos de Deus e não segundo as ideologias e sistema de valores deste mundo. É um desafio para cada verdadeiro discípulo de Jesus, em todos os lugares, em todas as culturas e em todas as épocas da história. Não podemos apresentar estas qualidades pelas nossas próprias forças ou esforços, mas somente pela graça de Deus e pela ação do Espírito Santo, seguindo o exemplo do nosso Senhor Jesus, que manifestou cada uma destas virtudes em abundância.

 

Dr. Jorge Cruz