Envelhecer com Saúde
«Os cabelos brancos são uma coroa de glória, quando embranquecem no caminho da honradez»
Provérbios 16:31
O envelhecimento da população é uma caraterística das sociedades modernas e está a verificar-se em todas as regiões do mundo, à medida que os progressos médicos e tecnológicos e a melhoria do acesso aos cuidados de saúde vão contribuindo para um aumento da longevidade. Em Portugal, a esperança média de vida passou de 67,1 anos em 1970 para 80,8 anos em 2018 (77,7 anos para os homens e 83,4 anos para as mulheres). Este aumento significativo da longevidade, aliado a uma redução acentuada do número de nascimentos, permite considerar a sociedade portuguesa cada vez mais envelhecida, com importantes repercussões económicas e sociais. Na verdade, Portugal é o 4.º país da União Europeia (entre 28 países) com maior percentagem de pessoas com 65 ou mais anos. O impacto do crescimento exponencial desse grupo etário, que as estimativas apontam que, em 2050, representará cerca de um terço do total da população, será preocupante em termos de sustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde, do sistema de segurança social e da economia do País. No limite, poderá inviabilizar o pagamento de pensões ou subsídios ao número crescente de reformados ou incapacitados para qualquer atividade profissional.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período de 2020 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável, procurando encorajar os decisores políticos, a sociedade civil, as instituições académicas e a mídia a cooperarem na melhoria das condições de vida dos mais velhos, suas famílias e comunidades.
O envelhecimento é um processo fisiológico progressivo e inevitável que conduz à deterioração da estrutura das células, comprometendo a função dos diferentes órgãos e sistemas. Ao nível celular, tem início mesmo antes do nascimento, sendo determinado por fatores genéticos e ambientais. Porém, em termos práticos, faz sentido situá-lo a partir da sexta década da vida, quando o declínio orgânico e funcional do corpo humano se começa a manifestar com maior intensidade, apesar da grande variabilidade individual. Se dividirmos o tempo de vida de uma pessoa em estações, o envelhecimento é mais notório no outono da vida, quando o cabelo se tornou grisalho (ou inexistente), a capacidade física diminuiu e o peso corporal aumentou. Está geralmente associado à idade de acesso à reforma, que na maioria dos países ocorre entre os 60-65 anos.
O envelhecimento não é uma doença. É um fenómeno fisiológico natural que representa uma etapa importante do ciclo de vida das pessoas, apesar de algumas limitações que condiciona. Sendo inevitável (a não ser que ocorra uma morte prematura), pode ser retardado através da adoção de estilos de vida saudáveis, de modo a aumentar a qualidade de vida e a prevenir o aparecimento de doenças associadas à idade avançada, em particular as doenças cardiovasculares e oncológicas. Um dos aspetos mais sombrios do envelhecimento é surgirem com frequência doenças degenerativas do sistema nervoso, entre as quais a doença de Alzheimer e outras formas de demência. No entanto, alguns estudos têm demonstrado que a idade média de aparecimento das doenças crónicas aumentou cerca de 10 anos nas últimas décadas.
Em 2002, a Organização Mundial de Saúde introduziu o conceito de envelhecimento ativo, que é o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem. O objetivo é que cada cidadão possa envelhecer com saúde e autonomia, mantendo em idades avançadas as capacidades físicas e mentais que lhe proporcionem bem-estar, continuando a participar plenamente na sociedade e a usufruir de uma boa qualidade de vida.
Para se envelhecer com saúde é muito importante uma atividade física regular, bons hábitos de sono e de descanso, uma alimentação equilibrada, rica em frutas e legumes e com pouco sal e açúcar, a abstinência tabágica, a moderação do consumo de bebidas alcoólicas, e a toma de medicação considerada necessária, por exemplo para o controlo tensional. Uma atividade mental estimulante e desafiadora é também essencial para uma saúde integral, assim como boas relações de afeto e estima no seio da família e da comunidade. O artigo 72.º da Constituição da República Portuguesa refere que as “pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social”. Deste modo, há que combater a exclusão social e a solidão, os abusos, a discriminação ou a negligência no cuidado prestado às pessoas mais velhas.
Um dos resultados da reforma, que surge com o envelhecimento, é uma maior liberdade no uso do tempo, sem as imposições rígidas de um horário laboral. A experiência adquirida ao longo da vida e, no caso dos crentes, a sua esperada maturidade espiritual, torna os mais velhos de entre nós um recurso indispensável, embora por vezes desvalorizado e subaproveitado, ainda que muitos se envolvam em diversas atividades de voluntariado, que é uma excelente forma de promoção do envelhecimento ativo.
A Palavra de Deus afirma o valor e dignidade do ser humano em todas as fases da vida, desde a conceção até à morte natural. Na carta a Tito (2:2-3), o apóstolo Paulo realça o papel fundamental e imprescindível dos homens e mulheres mais velhos, na comunidade cristã, para que sejam um exemplo de moderação, respeito, sabedoria, fidelidade, amor e perseverança, contribuindo assim para o crescimento e edificação da fé dos mais novos (cf. Salmo 92: 14-15).
A vida humana é limitada e o envelhecimento faz parte da vida. John Wyatt, professor catedrático de Neonatologia noImperial Collegeem Londres e um cristão convicto, salienta: “A esperança de vida do ser humano é limitada, não apenas como resultado do castigo de Deus, mas também da Sua graça e misericórdia”, porque “no cuidado de Deus para com a Sua criação, não era possível que o ser humano vivesse eternamente no seu estado degradado e limitado como consequência da Queda”. A mensagem do Evangelho anuncia a destruição da doença, do sofrimento e da morte, e a esperança de vida eterna, através de Cristo e do Seu sacrifício na cruz, para salvação de todos os que nele creem. Como refere o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4:14 e 16: “sabemos que Deus, que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar, para nos reunir convosco e com Jesus na sua presença (…). Por isso, não perdemos a coragem. E ainda que o nosso corpo se desgaste, o nosso interior renova-se de dia para dia”.
Dr. Jorge Cruz