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Prepara-te: injustiças enquanto jovem médico ou enfermeiro

Zack Millar explora a nossa resposta

Zack é um ex-editor estudante da Nucleus e é um médico interno do primeiro ano

Artigo da revista Nucleus da Christian Medical Fellowship (Reino Unido), "de estudantes para estudantes"

Original article: (clique aqui)

“BQUENE”

Fiz uma pausa com uma garfada de massa a meio caminho da minha boca. O psiquiatra estava a discutir um caso comigo durante o almoço, e essa sigla era totalmente desconhecida para mim. “Não sei o que significa isso”, confessei. “Bem”, disse ele, “às vezes um doente está deprimido ou com pensamentos suicidas, e quando ouves a sua história, pensas: Bem, qualquer um estaria nesta situação, não é?”.

Esta afirmação acompanhou-me ao longo da minha formação médica e na minha carreira de médico. O triste é que essas histórias são muito divulgadas na medicina, não apenas na psiquiatria. Uma proporção significativa das pessoas que encontro na minha prática diária têm histórias muito trágicas. Atendo pacientes que perderam três familiares em seis meses, foram deixados pelos seus cônjuges, despedidos dos seus empregos e diagnosticados com cancro, e ainda por cima aparecem no Serviço de Urgência depois de serem atropelados por um carro. E isso às vezes é o extremo mais suave do espectro.

No entanto, eu acredito num Deus soberano e acredito que a injustiça pode ser reconciliada com o Seu amor. Mas como devo reagir a isso como médico cristão? O que posso fazer? Deixem-me contar-vos como lido com dois tipos diferentes de injustiça.

Injustiça triste

Histórias como as contadas pelos meus pacientes “BQUENE” ainda me afetam, depois de três anos de treino clínico e um ano de trabalho como médico. Algumas pessoas apanham um comboio expresso para uma vida de privilégios, enquanto outras precisam de lutar para sobreviver a uma repetição de ataques violentos e tragédias. Eu sei que Deus tem tudo no Seu plano e, por isso, às vezes acho que devo estar a pecar se me sinto triste por isso. Talvez a minha confiança em Deus esteja de alguma forma a faltar.

A Bíblia diz que não. Para mim, um dos momentos mais bonitos dos evangelhos é o relato de Lázaro em João 11. O milagre em si é incrível, mas acho que a parte mais bonita vem imediatamente antes. A maioria das traduções diz a mesma coisa: “Jesus chorou". [1] Pode ser o versículo mais curto da Bíblia, mas eu o considero um dos mais ruidosos. Jesus sabia que estava prestes a ressuscitar Lázaro dos mortos, mas mesmo assim “ficou profundamente comovido e perturbado em espírito”. [2] Ou vejamos o Jardim do Getsémani em Lucas 22. Jesus estava tão angustiado que “o seu suor era como gotas de sangue caindo na terra”. [3] Aqui estava o Messias no clímax do Seu ministério. Não encontramos um Jesus estóico, absorto nos Seus pensamentos enquanto elogia a soberania de Deus. Em vez disso, encontramos um homem de joelhos, suando, implorando para que houvesse uma alternativa. As emoções são boas. As emoções são humanas! Se o Senhor Jesus, o modelo para toda a humanidade, pode ser visto chorando e suando com a perspectiva de obedecer à vontade de Deus, então nós também podemos.

Quando vemos injustiça no mundo, ou mesmo à nossa frente, e nos faz sentir miseráveis, isso pode ser completamente apropriado. Contudo Jesus nos mostra algo mais. As emoções são boas, mas como qualquer coisa boa, podem ser usadas pecaminosamente. Depois da forte reação emocional, Jesus poderia ter desobedecido ou, pior ainda, poderia ter culpado e atacado a Deus. Em vez disso, ele Se rendeu à vontade de Deus e fez o que o Seu Pai lhe pediu.

Injustiça furiosa

Quando foi anunciado em 2020 um aumento de um por cento no salário dos enfermeiros, o ar ficou pesado nos postos de enfermagem em todo o hospital. Após os eventos da COVID-19, o congelamento salarial do sector público e tudo o mais parecia completamente injusto. Muitos proferiram insultos contra o governo, muitas vezes contra o primeiro-ministro ou o ministro da saúde. Foram criadas muitas alcunhas, a maioria delas impróprias para serem referidas nos meios de comunicação.

Sem ser excessivamente político ou tomar partido, eu poderia ter tido duas respostas principais. Como jovem médico recém-licenciado, teria sido incrivelmente fácil me envolver em demonstração de solidariedade, com o objectivo de obter a simpatia das minhas colegas enfermeiras. Ou poderia ter sido completamente passivo e não dizer nada. Claro que assim não seria popular, mas pelo menos não estaria desrespeitando aqueles que Deus estabeleceu para nos governar.

Rapidamente me convenci de que nenhuma das abordagens era correta. Em vez disso, tentei suavemente arrefecer os ânimos e retornar a conversa para águas mais calmas. Mateus 5:9 mostra que o Príncipe da Paz valoriza aqueles que procuram trazer paz às situações: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus''.

Toda a injustiça

Tenho-me focado até agora na reação; agora deixem-me terminar falando sobre ação. O que fazemos em relação à injustiça? É suficiente simplesmente reagir de forma adequada?

Claro que não. Devemos procurar eliminá-la sempre que pudermos. Se vires alguém a ser tratado injustamente, intervém e impede que isso aconteça. Se tens algum dinheiro extra para gastar como quiseres, doa uma parte para instituições de caridade que visam reduzir as injustiças neste mundo. Como médicos e enfermeiros pode ser um grande testemunho simplesmente levar todos os doentes a sério; descobrirás que muitos profissionais de saúde estão cansados e desprezam certas condições médicas e psiquiátricas.

Mas onde está a diferença cristã? Qualquer pessoa responsável faria essas coisas, e qualquer profissional de saúde responsável trataria todos os seus doentes de forma imparcial. Novamente, a resposta está em Jesus. Ao chegar a um mundo cheio de injustiça, Ele não cruzou os braços. Em vez disso, convidou alguns pescadores para viajarem com Ele pregando o evangelho, curando os enfermos e chamando os seus ouvintes ao arrependimento.

Mais importante do que qualquer outra coisa, devemos orar pelo mundo, orar por aqueles que sofrem e pregar o evangelho onde pudermos. Devemos fazer a maior diferença que pudermos e levar tudo a Deus. Quando fazemos isso, podemos relaxar e sermos cheios de paz e alegria. Bem, tu estarias, não é verdade?

Referências

  1. João 11:35
  2. João 11:33
  3. Lucas 22:44

 

Tradução: Carla Lima
Revisão: Jorge Cruz e Lilian Calaim